sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

TC libera edital do metrô, mas com algumas ressalvas

12/12/2014 - Gazeta do Povo

O Tribunal de Contas do Estado do Paraná decidiu ontem pela liberação da concorrência que vai escolher o consórcio responsável por construir e operar o metrô de Curitiba. Para isso, porém, o órgão recomendou alterações no edital. Essas sugestões deverão ser incorporadas ao texto, segundo o secretário do Planejamento Fábio Scatolin.

O edital estava suspenso desde o último dia 22 de agosto, véspera da abertura dos envelopes das empresas interessadas no projeto. A decisão foi baseada em um relatório de uma comissão formada na Diretoria de Fiscalização de Obras Públicas do tribunal, que viu diversas irregularidades no edital de R$ 18,2 bilhões – R$ 4,6 bilhões da obra e o restante de receitas com bilhetagem, contraprestações e locação de espaços nas estações.

Secretário admite fazer as alterações indicadas pelo Tribunal

Questionado sobre os pontos listados pelo TC, Fábio Scatolin disse que prefere esperar a publicação do acórdão com todas as recomendações para se pronunciar sobre cada um deles. Mas disse que a gestão municipal vai trabalhar para fazer as alterações e acabou comentando dois pontos específicos apontados pelo tribunal. No caso da fiscalização da obra, Scatolin informou que a gestão municipal 'mexerá nesse item para que o poder público fiscalize toda a construção do metrô.

Já sobre a indefinição do local de bota-fora dos resíduos da construção, o secretário disse que a prefeitura está realizando uma licitação de EIA-RIMA e que ela indicará esses pontos [de desabastecimento]. "Se eles apontarem que o bota-fora poderá ocorrer em São José dos Pinhais, com certeza o IAP [órgão estadual para o meio ambiente] vai se pronunciar".

"Podemos nos adequar a todas as recomendações para que o interesse público seja atendido. Temos um corpo jurídico que irá analisá-las para adaptar nosso edital ao que foi recomendado pelo tribunal", afirmou Scatolin.

Os técnicos do TC encontraram irregularidades em três itens. O primeiro deles se refere à definição do objeto da Parceria Público-Privada (PPP). Segundo o tribunal, o objeto do contrato não estava claro ao não separar diretrizes obrigatórias das que são facultativas ao consórcio vencedor. Também havia críticas ao fato de não haver perfurações em quantidade suficiente para a análise do trecho que será escavado e da fiscalização.

Outro ponto ponderado pelo tribunal é o da fiscalização da obra. Em sua proposta de voto, o relator do processo, conselheiro Ivan Bonilha, afirma que o edital atual dá a entender que os documentos que nortearão a fiscalização da obra serão elaborados pela próprio consórcio, com parâmetros que seriam conhecidos apenas após a contratação.

O TC também recomendou que o edital traga os pontos para onde serão levados os dejetos da obra e a adoção de medidas ambientais acautelatórias, como o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e a Licença Ambiental. Segundo o órgão, estima-se que 63% dos 2,8 milhões de metros cúbicos de resíduos gerados pela construção do metrô serão levados para São José dos Pinhais.

O Tribunal aceitou  integralmente a contra argumentação da prefeitura para apenas um dos pontos, o que trata da ausência da pesquisa origem-destino. O órgão considerou que a Urbs possui uma estimativa de demanda aceitável e que os resultados obtidos por uma pesquisa neste momento seriam obsoletos daqui cinco anos – prazo para que metrô comece a operar.

A votação de ontem no pleno do TC derrubou a medida cautelar que suspendia o edital do metrô, mas o relatório do órgão ainda terá seu mérito julgado pela casa.

A prefeitura ainda não divulgou prazo para a retomada da licitação.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Metrô de Curitiba não terá condutores

08/12/2014 - Gazeta do Povo

Tecnologia é a mesma usada em cidades do Canadá, país pioneiro em ter um metrô operando sem condutores

Raphael Marchiori
 
Tecnologia é usada no metrô de Vancouver desde 198
Tecnologia é usada no metrô de Vancouver desde 1985
créditos: Raphael Marchiori/Gazeta do Povo
 
Se o imbróglio em torno do metrô de Curitiba for desfeito e o projeto sair do papel, uma coisa é certa: o sistema será projetado para que os trens circulem sem condutores. A tecnologia vem sendo empregada nos novos projetos brasileiros, como a Linha 4-Amarela de São Paulo e o metrô de Salvador, e existe em Vancouver, no Canadá, há quase 30 anos. A condução automatizada – CBTC (Controle de Trens Baseado em Comunicação, na sigla em inglês) –, permite reduzir o intervalo entre trens em até 90 segundos.
 
Com uma população um pouco menor que a da Região Metropolitana de Curitiba, a Grande Vancouver já tem 70 km de linhas de metrô instaladas. O sistema, conhecido como SkyTrain, começou a circular em dezembro de 1985 – já sem condutores.
 
Para o usuário, o principal benefício da tecnologia é a redução do tempo de espera nas plataformas. Isso porque o sistema de blocos virtuais permite que os trens circulem a intervalos mais curtos. São blocos virtuais de segurança que se movem com o carro, permitindo uma distância segura entre as composições menor do que a mínima permitida no sistema normal.
 
Segundo Mike Richard, vice-presidente de operações da BCRTC (British Columbia Rapid Transit Company), o sistema é bem avaliado. "Não há registros de acidentes ou incidentes graves. Nossas três linhas já o utilizam e vamos mantê-lo nas próximas." O metrô de Vancouver ganhará mais uma linha em 2016.
 
A ausência do operador não é sentida pelo passageiro. Aliás, o metrô de Vancouver quase não conta com funcionários nas estações. Apenas seguranças circulam pelas plataformas. Todo o sistema de venda de bilhetes é automatizado. A operação dos trens ocorre no Centro de Controle, onde sete funcionários trabalham por turno.
 
O intervalo atual entre trens em Vancouver é de 108 segundos, mas uma atualização do sistema está sendo realizada para que eles trafeguem com intervalos de 90 segundos. Assim como o projeto do metrô de Curitiba, a velocidade máxima dos carros de lá de 80 km/h.
 
Independentemente de o metrô ter demanda para exigir intervalos tão curtos, o importante, segundo especialistas, é o projeto englobar a possibilidade de redução desses intervalos para suprir demandas futuras sem necessitar de novos grandes investimentos. Calcula-se que a tecnologia consuma cerca de 5% do valor global de um projeto de metrô. Em Curitiba, a construção da Linha de 17,6 km está orçada em R$ 4,6 bilhões.
 
Toronto
O metrô de Toronto, por exemplo, ainda não tem um sistema totalmente automatizado. Mas a Toronto Transit Commission, estatal que administra o sistema, está investindo R$ 1 bilhão para implantar CBTCs ATO em duas das quatro linhas, reduzindo o intervalo entre trens de 140 segundos para 105 segundos, o que só ocorrerá em 2020. Essa mesma dificuldade pode ser observada em São Paulo, onde o governo pagou, em 2008, R$ 750 milhões a Alston para implantar o sistema em três linhas e, até o momento, só a Linha 2-Verde opera com a tecnologia – e só nos fins de semana.
 
Simples, porém eficiente
Os carros e trens que servem ao transporte público de Vancouver e Toronto são simples, se comparados aos novos modelos empregados nas linhas de metrô de São Paulo ou até mesmo ao Hibribus curitibano. Mas os sistemas são mais confortáveis e eficientes por uma simples diferença: o passageiro espera pouco. Isso vale para o metrô, mas também para os ônibus e até para os bondes elétricos que circulam por Toronto.
 
Nesta cidade, onde a espera média é de 140 segundos, entrar às 18h45 na estação Dundas – a mais próxima do local conhecido como Mini Times Square — e encontrar assentos livres em diversos vagões é comum. O metrô local conta com 69 estações e a Dundas é uma das 30 paradas da Yonge-University-Spadina Line, a mais movimentada da cidade.
 
Nos ônibus, vale o mesmo raciocínio. Apesar de circularem modelos antigos nas duas cidades, os horários são cumpridos à risca. E o que é tabu por aqui, lá é rotina. Todos os modais permitem que o ciclista embarque com sua bicicleta.
 
Outro tabu para os brasileiros, o subsídio público para equilibrar as contas é visto com naturalidade pelos gestores dos sistemas. Em Toronto, 70% dos custos são bancados com o valor tarifa (CA$ 3 por pessoa) e 30% vêm de subsídios. Não há grande discussão sobre o assunto porque o transporte público – utilizado atualmente por 65% da população – é visto como a saída para os congestionamentos da cidade.
 
O ponto negativo para Toronto é a integração. Apenas três estações do metrô têm integração com a rede de ônibus: a St Clair, a Spadina e a Downsview. O pagamento da tarifa, inclusive, ainda é realizado com moedas. A operadora do sistema planeja implantar sistema de cartões até 2017. Já em Vancouver, o sistema é parecido com o de São Paulo. A integração temporal ocorre entre todos os modais, por 1h30, e por um custo de CA$ 2,75.
 
*O jornalista viajou a convite da Thales, fornecedora do sistema CBTC de Vancouver.
 
Curitiba

O BRT do eixo norte-sul de Curitiba transporta atualmente 18 mil passageiros/hora no sentido sul e nove mil no sentido norte. O edital do metrô projeta uma demanda diária de 40 mil passageiros/hora nos dois sentidos.
 
Economia

Segundo Thomaz D'Agostini Aquino, diretor de transportes da Thales no Brasil, o CBTC gera uma economia de 15% graças à recuperação de energia (compensação entre desaceleração e aceleração) na tração dos trens.
 
Curitiba

Edital do metrô obriga que trens não tenham condutores
 
O edital do metrô de Curitiba, atualmente suspenso por uma decisão do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR), prevê que o consórcio vencedor da licitação entregue um sistema de sinalização automatizado para que os trens circulem sem condutor.
 
Apesar de o documento deixar em aberto a tecnologia de sinalização que será empregada (pode de ser bloco fixo ou móvel), técnicos da prefeitura de Curitiba trabalham com a possibilidade de o consórcio vencedor optar pelo modelo móvel, o mesmo usado em Vancouver. Essa tem sido a tecnologia empregada nas linhas de metrô mais recentes do país.
 
Além disso, modernizar uma linha já em funcionamento é mais caro e demorado.
 
Discussão

Assim como em Curitiba, a necessidade de construir linhas de metrô também é uma discussão sem fim em Toronto. Segundo Andy Byford, C.E.O da Toronto Transit Commission, o assunto foi tema constante nas últimas eleições municipais e o BRT curitibano foi apontado como solução intermodal para a cidade canadense.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Licitação do metrô de Curitiba entra na pauta do TCE-PR

04/12/2014 - Gazeta do Povo

Pleno do Tribunal pode avaliar o relatório que pediu a suspensão da licitação do metrô da capital na sessão de hoje
  
Fernanda Trisotto

Metrô curitibano em discussão
Metrô curitibano em discussão
créditos: Divulgação
 
O Pleno do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) pode analisar hoje o relatório que determinou a suspensão da concorrência internacional do metrô de Curitiba. Apesar de estar na pauta, o tema pode não ser analisado hoje, já que não há um prazo estipulado para uma decisão. Em agosto, o conselheiro Ivan Bonilha suspendeu liminarmente a licitação, decisão ratificada pelo Pleno.
 
Segundo parecer técnico do TCE-PR, existiriam diversas irregularidades no edital do certame, de R$ 18,2 bilhões. Entre elas, a ausência de detalhamento do objetivo da parceria público-privada, falta de pesquisa de origem-destino dos passageiros e expedição das diretrizes para o licenciamento ambiental do empreendimento por órgão sem competência legal. O edital vai escolher o consórcio que irá construir e explorar o metrô durante 35 anos.